O que sobrou do Paraíso? - Jean Delumeau.
A partir do final do século XVIII, após importantes transformações culturais e científicas, ocorre uma gradual dissolução da perspectiva medieval a respeito do paraíso como um lugar factual. O autor busca então, compreender como se comporta a fé cristã depois desta ruptura.
Jean inicia sua obra opondo-se ao senso de que as Igrejas católicas causaram mais impacto com suas descrições acerca do inferno, do que com suas evocações celestes. Para embasar tal conjectura, recorre a diversas obras que contemplam o paraíso, inclusive àquelas que podem ser consideradas fundadoras deste ideal, como “Gênese”, “Apocalipse”, “Hierarquia Celeste” e “Divina Comédia”.
O primeiro livro da Bíblia é responsável pela associação com a imagem da felicidade eterna. Embora, originalmente, a descrição do Jardim do Éden seja comedida, a concepção de paraíso é aos poucos realçada por outras literaturas.
O livro das Revelações, apesar de seu viés trágico, incute a ideia de que o bem e a felicidade triunfam no plano paradisíaco.
“Hierarquia Celeste” assemelha-se à visão de cosmos aristotélica-ptolomaica, onde há a perfeição e superioridade celeste. Para Pseudo-Dênis, no entanto, o âmbito celeste era dividido em 9 partes que, por sua vez, eram organizadas em 3 hierarquias superpostas, estando o cume mais próximo a Deus e o último segmento a nós seres humanos.
A obra de Dante Alighieri une as ideias do Areopagita à cosmografia cristianizada de Ptolomeu (composta agora pelo empíreo, onde fica a morada de Deus, dos anjos e dos eleitos).
A imagem deste céu perfeito e imaculado cristalizou-se durante muito tempo, e era constantemente retratada como um lugar belo, límpido, tranquilo e composto por uma infinidade de pedras e metais preciosos, assim como as basílicas romanas, que eram adornadas com muito ouro e pedras valiosas. O jardim paradisíaco também recebia generoso destaque, com suas campinas sempre verdes e dotadas de muitas plantas