O professor leitor
Artigo do professor e pesquisador da Unicamp, Ezequiel Theodoro da Silva, no seu blog Leitura e Ensino.
Por Ezequiel Theodoro da Silva (*)
O cerne do desenvolvimento da identidade de um professor é, sem dúvida, a leitura. Para ele, a leitura constitui, além de instrumento e/ou prática, uma "forma de ser e de existir". Isto porque o seu compromisso fundamental, conforme a expectativa da sociedade, se volta para a (re)produção do conhecimento e para preparação educacional das novas gerações. Professor, sujeito que lê, e leitura, conduta profissional, são termos indicotomizáveis - um nó que não se pode e nem se deve desatar.
No Brasil, a formação aligeirada - ou de meia tigela - dos professores, o aviltamento das suas condições de trabalho, o minguado salário e as políticas educacionais caolhas fazem com que os sujeitos do ensino exerçam a profissão sem serem leitores. Ou então, sejam tão somente leitores pela metade, pseudo-leitores, leitores nas horas vagas, leitores mancos, leitores de cabresto e outras coisas assim. Os resultados desse quadro lamentável e vergonhoso todos sabem: dependência de livros didáticos e outras receitas prontas, desatualização, redundância dos programas de ensino, homogeneização das condutas didáticas, repertório restrito, ausência de habilidades e competências de leitura, estagnação intelectual, etc.
Antonio Nóvoa talvez seja, modernamente, a voz mais bem gabaritada no mundo para discorrer sobre o ofício do professor. De fato, as suas reflexões, veiculadas em diferentes obras (1), recuperam a história da profissão e formam um quadro que junta, dinâmica e articuladamente, três dimensões: o professor enquanto ser humano ou pessoa, o professor enquanto profissional e o professor enquanto membro partícipe de uma organização (a escola). No presente artigo, pretendo mostrar como essas três dimensões são - ou podem ser - banhadas por processos específicos de leitura. Esse "banho" é que robustece a identidade do professor