O processo de valorização da família na política de saúde mental: beneficiária ou refém no contexto das mudanças estruturais contemporâneas?
O respectivo artigo analisou o processo de centralização e valorização da família nas políticas públicas referendado no contexto contemporâneo de desproteção social por parte do poder público, tendo como foco a política social de saúde mental por meio do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), com vista ao desvelamento de seus impactos e consequências para o aludido segmento social. Para tanto, fez-se um estudo bibliográfico e documental do fenômeno social e suas expressões a partir de uma análise sócio-histórico-cultural, indo além de aspectos isolados, buscando as interfaces das múltiplas expressões da questão social que demarcam uma conjuntura adversa para a família que tem sobre si a responsabilidade de um parente com transtorno mental. Destarte, a revisão de literatura, acrescida à minha experiência de oito anos como assistente social da área de saúde mental, inclusive como coordenadora de um grupo de apoio à família num CAPS do interior do Ceará, revelou que a família passa por processo de culpabilização das mazelas acometidas ao membro com adoecimento mental, numa sutil jogada ideológica de individualização do problema, quando a resposta aos dilemas se centra na sobrecarga familiar e em sua desproteção pelo poder público. Ademais, a pesquisa bibliográfica apontou que enquanto o âmbito familiar assume centralidade no contorno das transformações contemporâneas ancoradas no ideário neoliberal de minimização do Estado, paradoxalmente sofre de forma mais contundente as consequências desse modelo político com impacto no desemprego, nos processos de precarização do trabalho e de destituição social pelo contínuo afastamento do poder estatal na regulamentação das políticas públicas, deixando o segmento em questão ainda mais vulnerável e fragilizado, inserindo-o na condição de refém de uma realidade social perversa e desigual.
PALAVRAS-CHAVE: Família. Saúde Mental. Desproteção social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERENSTEIN, Isidoro. Família e doença mental.