O processo de industrialização no brasilo
1. A ''vocação agrária'' brasileira
''O Brasil é um país essencialmente agrícola.'' Esta afirmação foi repetida incontáveis vezes no Brasil, mesmo quando, a partir da década de 30, a industrialização já caminhava a passos rápidos. A idéia de uma ''vocação agrícola'' para o Brasil exprimia os interesses e o domínio que as oligarquias de origem rural exerceram sobre a sociedade brasileira durante largo período de tempo. Nas primeiras décadas do século XX, eram freqüentes as queixas dos fazendeiros contra um novo setor da classe dominante que adquiria crescente importância econômica e política - a burguesia industrial. ''Aos lavradores (...) a fortuna de um Matarazzo se afigurava assustadoramente grande e capaz de ramificações ilimitadas. De vez em quando referiam-se aos industriais como a uma 'aristocracia do dinheiro', a uma 'plutocracia industrial' ou mesmo 'bando de tubarões'. E ao se lembrarem da freqüência com que o novo industrial começara como imigrante, os agricultores se queixavam dos estrangeiros que tinham chegado de terceira classe para empobrecer antigas famílias da aristocracia rural, genuinamente brasileiras. As ''antigas famílias genuinamente brasileiras'' faziam ainda outras críticas à nascente indústria. Esta era considerada uma atividade "artificial", uma vez que dependia da importação de máquinas e matérias-primas; era o caso, por exemplo, de indústrias têxteis que importavam juta, com o agravante, no caso, de não consumir algodão que era produzido internamente. Ou então eram vistas como "artificiais" as empresas que para fugir das tarifas cobradas sobre os produtos importados, limitavam-se a montar aqui o produto final, importando todas as suas partes. Os cafeicultores paulistas, além disso, reclamavam da transferência de trabalhadores - especialmente os imigrantes europeus, nas primeiras décadas do século - da agricultura para as fábricas, o que, acreditavam, poderia reduzir a oferta da