O problema da água em seu aspecto político-ideológico
O desenho institucional que esteia as relações de poder em torno da água, no Brasil, e o discurso que o acompanha, traz para a cena política uma aparente novidade, qual seja, a de está sendo colocado em xeque o “operando” que suscitou o estágio atual de escassez de água, em quantidade e qualidade.
O Estado entende que esteja sendo eficaz na sinalização de sua vontade política em torno da universalização do acesso à água potável; da descentralização dos espaços decisórios; do fomento de uma hermenêutica diatópica na construção de uma nova práxis socioambiental. Donde seu anseio para que se constitua um imaginário pautado pela ideia de que a sua interlocução com a sociedade no tema das águas encontra-se em alteração substantiva, orientando-se para um compromisso de transformação social; isto é, no enfrentamento das desigualdades socioeconômicas que se expressam no acesso aos mínimos vitais e sociais bem como no fomento à dialogicidade de saberes e conhecimentos nas arenas decisórias.
Ocorre, todavia, que um processo de transformação social implicaria na superação da trama historicamente constituída na lógica centralista e elitista (FERNANDES, 1960). Tratar-se-ia de algo que não passaria despercebido à coletividade, na sua multifacetada e conflituosa composição, devido às inúmeras narrativas que esse fenômeno ganharia, produzidas tanto pelos que testemunharam quanto pelos que participaram ativamente do processo.
Não havendo registro de que um fenômeno dessa natureza tenha ocorrido, o corolário é que a aparente inovação na forma de controle das águas e o discurso que a ancora resguardam um conteúdo sociopolítico conservador o qual inviabiliza compromissos com uma transformação genuína. De molde que assistimos tão somente a uma mudança, característica da modernização simples. A negação das condições concretas da realidade social – e não de seu efetivo enfrentamento – denota a característica ideológica em