O princípio irônico da construção em “Memórias póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis
No espaço dominado pela liberdade literária de criação a relação entre ficção e realidade pode estar localizada sob uma linha tênue. Já em relação a sua característica metaficcional encontra-se o conceito de Ironia, que estará presente em grandes obras como “Memórias póstumas de Brás Cubas”. Primeiramente, é preciso delimitar sobre o conceito. Sabe-se, pois, que a realidade é um local que abriga a dúvida, a insegurança e a confusão por não ser estática, e que o real será diferente de acordo com cada perspectiva. A Ironia estará inserida, então, em um fundamento dual, no qual se encontram a obliquidade (dizer algo diferente do pensado), a ambiguidade (duplo sentido) e a ambivalência (afirmação de dois aspectos contraditórios de um mesmo referente). A partir do momento em que a dualidade se transfere para o próprio sujeito, este passa a se autodesdobrar tornando-se um eu-sujeito pensante e um eu-objeto pensado, ou seja, começa a reconhecer e a trabalhar com a ironia sendo capaz, portanto, de uma espécie de auto-observação. Ainda, de acordo com Friedric Schlegel, “a ironia é uma parábase permanente”. A Parábase é reconhecida como um movimento paralelo e foi introduzida por Aristóteles na antiga comédia grega, na qual se utilizava o deslize da ação dramática para passar ao público o apelo do dramaturgo, realizando, assim, a interação sério/jocosa com a plateia. Além de ser responsável por veicular a metalinguagem crítica inserida na trama das ações, a Parábase também se caracterizará como um supremo princípio de composição artística. Através dela será possível intensificar a força cognitiva do discurso literário fazendo com que a Literatura seja identificada como um poetar pensante, logo, não mais deleite ou lugar de mera representação dos acontecimentos e sim como forma de conhecimento e reflexão. A Ironia fortalecida pela Parábase se posiciona como local de