O povo Brasileiro
Darcy Ribeiro
“Por que o Brasil ainda não deu certo?” Esta é a questão que motiva a obra de Darcy Ribeiro (2002), dedicada a compreender o Brasil e os brasileiros – sua gestação como povo e seu lugar específico na história humana.
II) Gestação Étnica
Fixando-se ao longo da costa, os portugueses fazem uso da instituição indígena do “cunhadismo” com o objetivo de recrutar braços para a exploração econômica da terra e para o combate às tribos hostis. Tomam tantas esposas índias quanto lhes era possível, estabelecendo assim uma rede de parentesco – centenas de sogros, cunhados, genros – essencial à realização de seus propósitos. Tal processo, para Ribeiro, além de constituir o principal motor de povoamento e colonização do novo ambiente, terminaria por engendrar o núcleo e a base fundamental do que, no futuro, constituiria a etnia brasileira: uma infinidade de “mamelucos”, gerados no ventre índio a partir do sêmen branco, dotados de uma identidade própria que os diferenciava, por negação, tanto de seus pais portugueses quanto de suas mães índias:
“Assim é que, por via do cunhadismo, levado ao extremo, se criou um gênero humano novo que não era, nem se reconhecia e nem era visto como tal pelos índios, pelos europeus e pelos negros. Esse gênero de gente alcançou uma eficiência inexcedível, a seu pesar, como agentes da civilização. Falavam sua própria língua, tinham sua própria visão de mundo, dominavam um alta tecnologia de adaptação à floresta tropical. Tudo isso aurido de seu convívio compulsório com os índios de matriz tupi.” (ibidem, p. 109)
Trazidos da costa ocidental da África, os negros terminam por se integrar a esta célula original Tupi, sem reter, entretanto, uma herança cultural tão rica quanto a indígena. Tal fato se deveria à diversidade línguística e cultural das tribos traficadas para o Brasil, muitas delas hostis entre si. Esta “Babel” – segundo as palavras de Ribeiro –, submetida ao