O Ponto De Partida Do Sistema Hegeliano 2
Hegel advoga uma fé incondicional na razão, uma “fé racional”, como diria Kant. Ele não pretende, contudo, como Kant, fazer da razão um esquema transcendental abstrato, ou seja, a expressão formal da subjetividade na sua dimensão transcendental, universal, liberta da finitude empírica, mas, em contrapartida, destituída de qualquer acesso ao ser e à realidade.
Para Hegel, a razão só atinge sua total universalidade quando deixa de ser mero conhecimento para ser a própria realidade conhecida. Isto significa que a razão tende a efetivar-se como a consciência do real. Enquanto ela permanecer encerrada na subjetividade, opondo-se ao mundo exterior como um sujeito que se opõe ao seu objeto, ela não alcançará sua plenitude, pois será um conceito vazio de seu conteúdo, uma casca formal que justifica algo que não é ela, que se dispõe em face dela e permanece, dessa forma, aprisionado ao relativo, ao imediato, à morte.
Eis porque, para Hegel, a síntese entre real e racional é a alma de qualquer sistema que pretenda atingir a universalidade. A razão deve penetrar progressivamente a realidade de que é consciência, deve libertar-se do exclusivismo da subjetividade – que a detém como a sua verdade – e tornar-se o sentido explícito, a justificação de todo o real. A razão tende, pois, a tornar-se práxis, seu processo de conhecimento tende a abandonar o domínio formal e alcançar o movimento mesmo da realidade. Ora, o movimento consciente da realidade é a História.
1.1. A crença numa inteligibilidade inerente ao real
“O que é racional é real e o que é real é racional”. “Só a Ideia é real”; “nesse caso, trata-se de reconhecer na aparência do temporal e do passageiro a substância que é imanente e o eterno que é presente. Com efeito, o racional, que é sinônimo de Ideia, entrando com sua realidade na existência exterior, desdobra-se num reino infinito de formas, de fenômenos e configurações, e recobre seu núcleo de uma camada multicor na