O planeta chega ao seu limite
Até agora, três dos limiares planetários – a mudança climática, a perda da biodiversidade e o ciclo do nitrogênio – já foram excedidos, e mais quatro – ciclo do fósforo, acidificação dos oceanos, uso de água doce e do solo – serão logo ultrapassados se as atividades humanas mantiverem o ritmo atual por Amâncio Friaça
Um recente artigo da renomada revista Nature, assinado por 29 cientistas, busca quantificar o impacto da atividade humana sobre a Terra, identificando processos biofísicos e seus limiares que, se transgredidos, podem gerar mudanças ambientais inaceitáveis1. Johan Rockström, da Universidade de
Estocolmo, e os coautores propõem nove “limiares planetários”: mudança climática; perda da biodiversidade; interferência nos ciclos do nitrogênio e do fósforo; acidificação dos oceanos; uso global de água doce; mudanças no uso do solo; destruição do ozônio estratosférico; emissão de aerossóis na atmosfera; e poluição química. Esses limites definem um “espaço de operação seguro” para as pressões humanas sobre a biosfera. O respeito desse espaço permitiria à humanidade continuar a prosperar por vários séculos no futuro.
10 mil anos de estabilidade
O planeta experimentou uma excepcional estabilidade ambiental nos últimos
10 mil anos. Este período, o Holoceno da geologia, começou no final da última glaciação e é caracterizado por uma temperatura global amena e praticamente constante, além de pouca variação dos fluxos geobioquímicos e da disponibilidade de água doce. Porém, na história do Homo sapiens sapiens, a estabilidade ambiental é exceção e não regra. Nos cem mil anos anteriores ao Holoceno, a temperatura global flutuou irregularmente. Foi quando nossa espécie exibiu uma imensa mobilidade: saiu da África, chegou à Austrália, migrou à Europa e entrou na América. Porém, a agricultura só surgiu durante o Holoceno. Antes, o clima errático, com amplas variações, teria dificultado a fixação do homem na terra.