O pesadelo da amnésia coletiva
um estudo sobre os conceitos de memória, tradição e traços do passado
Myrian Santos
Amnésia ou esquecimento coletivo? "The tragedy began not when the liberation of the country as a whole ruined, almost automatically, the small hidden islands of freedom that were doomed anyhow, but when it turned out that there was no mind to inherit and to question, to think about and to remember." Hannah ARENDT, (1986). Between Past and Future "It is 1971, and Mirek says that the struggle of man against power is the struggle of memory against forgetting." Milan KUNDERA, (1981). The Book of Laughter and Forgetting Blade Runner, o filme de Ridley Scott traduzido por O caiador de andróides, está de volta, dez anos após seu lançamento, trazendo, novamente, as imagens do desenvolvimento tecnológico e declínio urbano retiradas da obra de Philip K. Dicke e veiculando nossos medos e fantasias de perda de identidade e desumanização. O tema, caracterizado tão bem em clássicos do cinema, como Metrópolis, de Fritz Lang; Tempos Modernos, de Charles Chaplin; e Cidadão Dane, de Orson Welles, não é, portanto, novo; periodicamente volta ao debate. A popularidade do tema aparece também na reedição em sete volumes da obra de Kafka, autor que se caracteriza pela crítica à irracionalidade da vida contemporânea. O pesadelo da amnésia coletiva cresce à medida que nos defrontamos com máquinas que agora não só trabalham, mas também têm memórias cada vez mais complexas e elaboradas. A valorização de uma nacionalidade mecânica e instrumental é questionada, e novas definições de saber e conhecimento entram no debate. Em Blade Runner, os andróides são os "replicantes", perfeitos humanóides que, no entanto, não têm passado ou memória. Aparentemente, este é o único fator que os diferencia dos humanos. Nos livros de Kafka, o mundo absurdo da realidade se legitima no presente através da destruição contínua de tradições e arquivos do