O paradoxo de Rousseau
Santos, Wanderley Guilherme dos.. O paradoxo de Rosseau: uma interpretação democrática da vontade geral. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
Wanderley Guilherme dos Santos e o compromisso romântico da democracia
Clayton Mendonça Cunha Filho*
Conforme o posfácio escrito pelo próprio Wanderley Guilherme dos Santos (WGS), O paradoxo de Rousseau é um ensaio escrito de forma bastante anti-convencional relativamente à estruturação de textos acadêmicos. Originado, ainda segundo o posfácio do autor, de insights esparsos agregados em aulas e conferências durante muito tempo, o livro divide-se em três partes que, embora relacionadas, podem também ser lidas de maneira relativamente independentes.
Na primeira parte, intitulada “A longa marcha da democracia brasileira”, WGS discorre sobre o longo processo, cheio de idas e vindas, que separa o primeiro voto à eleição para a Assembléia Constituinte de 1891 até a efetivação da democracia plena no Brasil em
1985, quando foram abolidas as últimas qualificações excludentes à cidadania eleitoral.
Primeiramente, excluíam-se analfabetos, mulheres e cidadãos abaixo de determinada renda. Abolido o quesito censitário logo cedo, somente em 1934 se estabeleceu o sufrágio feminino, mas a exigência de alfabetização continuou a excluir enorme contingente de potenciais eleitores até finalmente ser abolida em 1985. Entretanto, estabelecida a democracia, poucos estariam plenamente satisfeitos, fenômeno não apenas brasileiro, mas mundial.
O que estaria, então, a gerar o descompasso entre instituições democráticas plenamente funcionais e a insatisfação geral com o sistema? WGS identifica dentre as causas o fato de que as demandas humanas são infinitas e novas demandas surgem quase pari passu à atenção das anteriores e a democracia é justamente o regime por excelência onde demandas são legitimamente apresentadas moto contínuo, tema a que retorna em mais detalhes no epílogo do livro. Mas para além dessa insatisfação saudável e inerente, o
caso