O papel do acontecimento
Prof. Rui Simon Paz
"Quanto ao tempo presente, se ele sempre fosse presente e não passasse, deixaria de ser um tempo, seria a eternidade. Portanto, se o tempo só é tempo porque ele passa, como podemos dizer que ele é, ele que só é porque está a ponto de deixar de ser; e portanto não é verdade dizer que só é um tempo porque tende ao não-ser." [i]
Afinal, o que move o moinho da história?
Segundo Karl Marx, a luta de classes é o motor da história. Para Hegel, há uma dialética do espírito que contrapõe teses e antíteses, produzindo sínteses e, assim, forjando as grandes transições de um período a outro da história. Mas, segunda a Teoria do Caos, uma tempestade começa com o bater de asas de uma borboleta. Então, como se iniciam as grandes “tempestades” históricas, como a derrocada do Medievo, ou a queda do Muro de Berlim, por exemplo?
Quando Galileu mirou sua luneta para Júpiter e constatou a existência de luas em sua órbita, não fez apenas uma grande descoberta, mas, sobretudo, abalou de forma irreversível os alicerces do edifício lógico-axiológico medieval. O mesmo se sucedeu com a prensa de Gutenberg que, a partir da segunda metade do Século XV, permitiu a popularização do livro e, conseqüentemente, a alteração da massa crítica da sociedade no longo prazo, pois, se antes havia a mediação do Clero entre homens ignorantes e analfabetos e Deus, ou o conhecimento, a partir de então as pessoas passam a buscar diretamente nos livros, outrora interditados aos comuns, a compreensão do mundo e de si mesmos. O efeito de longo prazo foi a queda irreversível do poder clerical, culminando com o advento das Repúblicas Modernas, dois séculos depois.
Esses acontecimentos não passam, aparentemente, de efemérides, eventos passageiros de curta duração, sem consequências duradouras. No entanto, ao longo de um período de tempo razoável, dependendo