O Outro Como Refer Ncia
Resumo[1]: Inspirado na obra “A memória coletiva” de Maurice Halbwachs, o presente artigo constitui-se de uma análise da relação entre contextos sociais, memória e construção histórica tendo por base teórica a referida obra. O contexto social deve ser entendido como o espaço-tempo onde se processam as ações coletivas objeto da memória que sob risco de extinção tem na história seu recurso de fixação. “Um homem que se lembra sozinho do que os outros não se lembram é como alguém que enxerga o que os outros não vêem”, essa idéia de Halbwachs, por si, ilustra o que de mais relevante pode ser evidenciado em sua obra, o outro como referência do eu.
Desenvolvimento
Um dos pontos fundamentais da leitura de Halbwachs é a possibilidade de análise do papel social da memória. Nesse sentido, A memória coletiva (2006) transporta a cotidianidade das vivências para o campo da história dos indivíduos que se reconhecem pelo passado comum numa recordação que é impossível “quando não se toma como ponto de referência os contextos sociais reais que servem de baliza à essa reconstrução”. (p. 8). Fica, portanto, condicionada o sentido da memória a um contexto e à interação com os indivíduos que partilham da ação objeto da memória.
Não se pode pretender dizer, porém, que a memória reproduza, como num filme, tudo o que aconteceu, de modo que cada um possa relembrar tal como realmente sucederam os fatos. A memória, de acordo com a significação atribuída pelo indíviduo ao evento objeto da rememoração, comporta variação. Isso se explica não pelo fato em si, mas pelo sentido atribuído a este pelo grupo. Uma turma de alunos, detalha Halbwachs, pode lembrar mais de um professor do que o professor de um determinado aluno. Isso porque para o professor as turmas de alunos representavam grupos de convivência efêmera sendo, portanto, vagas as relações sociais aí estabelecidas.
A importância dada à memória coletiva