O Olhar fotográfico como documento histórico
Délcio Garcia Gomes *
É possível contar a história de um povo por meio das imagens, e, particularmente, problematizando o olhar fotográfico?
É de conhecimento geral na historiografia que até as primeiras décadas do século XX os historiadores valorizavam excessivamente as fontes escritas, consultando e comparando os documentos oficiais que traziam informações dos acontecimentos políticos e, conforme o pensamento da época, “falavam por si”. Deste modo, o campo de trabalho do historiador era restrito, preso a busca pela objetividade, dentro da qual havia pouco espaço para a problematização e a diversificação das fontes, para a subjetividade do pesquisador e, consequentemente, para a narrativa dos sujeitos sociais
“ausentes” dos grandes acontecimentos, à margem dos grupos dominantes.
No final da década de 1920, e nas décadas subsequentes, um novo debate dentro da historiografia começou a alterar estes conceitos e suas abordagens.
Neste processo, destacam-se as contribuições da revista Annales d’histoire économique et sociale, bem como de Marc Bloch e Lucien Febvre, seus fundadores, para a diversificação dos temas, dos sujeitos, das concepções sobre o tempo histórico e das fontes documentais.
A noção de documento foi ampliada ao ponto de envolver todas as atividades humanas, dos registros arqueológicos até as impressões possíveis através dos sons. Mudanças que desafiaram os historiadores a buscarem um diálogo maior com outras áreas do conhecimento ou mesmo trouxeram para o trabalho historiográfico os artistas, os economistas, os arqueólogos, os geógrafos, músicos, jornalistas, escritores, entre outros. Não só a história tornou-se mais ampla e diversificada, com uma maior presença de sujeitos e temas, como a historiografia também amadureceu a ponto de se tornar mais completa em suas abordagens.
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Texto avaliativo da disciplina Iniciação à Pesquisa em História, oferecida pelo professor