O novo regime
O processo constituinte pôs em evidencia a fragilidade dos grandes partidos, que constituiam a representação da classe dominante brasileira, situação que se agravou, a fins de 1988, com a cisão do PMDB que deu origem ao Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB), agrupação de centro-esquerda com assento principal em São Paulo. Não surpreende, pois, que os grandes eleitores do país — organizações patronais, grupos econômicos e meios de comunicação de massa — se mostrassem divididos entre os cinco candidatos que disputaram sua preferência, no primeiro turno das eleições presidenciais de 1989. Eram eles Paulo Maluf (PDS), Ulysses Guimarães (PMDB), Aureliano Chaves (PFL), Mario Covas (PSDB) e Fernando Collor de Mello, jovem político sem maior curriculum, que concorreu por uma formação desconhecida, o Partido de Renovação Nacional (PRN). Somente ao perceber que os candidatos de esquerda, Luís Ignácio da Silva - Lula (PT), a quem coube o segundo lugar, e Leonel Brizola (PDT), reuniam mais de 24 milhões de votos, contra os 17 milhões de Collor de Mello, primeiro colocado, é que a classe dominante uniu forças para garantir a este a vitória no segundo turno.
Essas eleições representaram o último ato da longa transição à democracia e abriram uma nova etapa na vida brasileira. Nela, o primeiro desafio consiste em superar a estagflação em que o país mergulhou nos anos 80 e ajustá-lo às condições criadas pela nova economia mundial, que emergiu na segunda metade dessa década. Apostando no neo-liberalismo, o governo Collor adotou uma estratégia que contempla a estabilização monetária, a renegociação da dívida externa, a redução da presença estatal na economia e a abertura comercial ao exterior.
Em seu primeiro ano de implementação, essa estratégia exibiu resultados insuficientes e precários. Seu efeito mais sentido foi o de romper a unidade do bloco dominante, fragilmente construída no segundo turno da eleição presidencial, ao contrapor os interesses da grande