O nosso homem em Washington
Texto de Gonçalo Pereira
Aos 61 anos, Alexandre Quintanilha mantém a bonomia que o tornou um dos principais divulgadores da ciência em Portugal. “A brincar dizem-se coisas sérias” é o lema deste biólogo e físico, director do Instituto de Biologia Molecular e Celular do Porto e representante português no Committee for Research and Exploration (CRE) da NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY (NGS).
Fala de clonagem com o mesmo desprendimento com que avalia o contributo da ciência para a literatura ou para o quotidiano. Continua, hoje como sempre, arreigado à missão de desconstruir os preconceitos morais da sociedade perante o conhecimento científico. Hoje como sempre, perde a noção do tempo quando fala, entusiasmado, da revolução que a ciência produziu na sociedade moderna.
Foi o primeiro português e um dos primeiros não-americanos com assento no CRE. De certa forma, constituiu a primeira vaga de internacionalização do programa de financiamento de investigação da NGS.
Devo dizer que, quando me convidaram para o Committee for Research and Exploration (CRE), tive uma enorme surpresa. Eu cresci com a National Geographic, como deve haver muitos jovens que o fizeram também na minha geração e em gerações anteriores ou posteriores. A revista era um ícone, e nunca me passou pela cabeça, mesmo depois de estar vinte anos nos EUA [N.Ed.: No Laboratório de Berkeley], que algum dia estaria envolvido com ela. Quando me convidaram e eu obviamente aceitei, não sabia o que me esperava, porque conhecia superficialmente as actividades da NGS. Sabia que tinha uma revista e um canal de televisão. Sabia que financiava viagens de exploração e que provavelmente também financiava projectos de conservação da natureza, mas não tinha ideia do que era o trabalho científico da NGS.
Como funciona o CRE?
O comité reúne duas dezenas de pessoas, das mais variadas áreas científicas e geográficas. Há aproximadamente três anos, resolveu-se, pela primeira vez,