O negro como consumidor
A percepção do negro como consumidor liga-se de maneira significativa ao espaço dado a ele nas mensagens transmitidas pelos veículos de mídia e ainda mais, deve-se à maneira como essas mensagens o apresentam à sociedade.
O negro viu-se representado, durante todo o decorrer do século XIX como um corpo escravo, um objeto manipulável e negociável que se configurou como uma mercadoria moldada sob os valores de uma cultura que se julgava superior e que, em decorrência deste julgamento, viu-se no direito de identificar o negro como inferior.
Quando representado como corpo-escravo, o negro estava localizado à margem da sociedade, já que sua representação como um agente cultural estava marginalizada.
Assim, posicionado fora das definições razoáveis para ser aceito na dinâmica da sociedade brasileira do século XIX, ele não podia consumir, não tinha direito a serviços públicos de saúde e educação, não frequentava locais de lazer, dentre outras restrições.
Os poucos bens que possuíam os escravos, bens que se limitavam praticamente a roupa do corpo, provinham de doações, trapos, remendos, ou seja, nada era, de fato, consumido em troca de moeda, não havia opção de escolha, uma vez que não havia um comércio que atendia especificamente às demandas dos negros (a não serem os comércios existentes dentro das próprias organizações de escravos fugidos, como os quilombos, nestes casos, os negros “chegavam a estabelecer relações comerciais com os povoados vizinhos”.). Desta forma, quando existiam essas relações comerciais que envolviam negros, elas eram realizadas fora da sociedade institucionalizada, ou seja, não eram reconhecidas pelas instituições sociais hegemônicas. Essa “ilegalidade” da prática do comércio não favorecia a visibilidade dos negros como consumidores nos meios de comunicação; por não participarem das relações de comércio legitimadas pelas organizações sociais (como empresas, imprensa, fábricas) eles não eram