O Nazismo por Nobert Elias
UM ESCRITOR CONTRA O NAZISMO1
Sonia DAYAN-HERZBRUN2 n RESUMO: O combate que Thomas Mann travou contra o nazismo a partir de
1922 é exemplar, pois é o de um escritor apaixonado pela liberdade e não o de um militante. Ele privilegia a ficção e o mito como meios de luta contra o fascínio exercido pelo nazismo e afirma a permanência de uma Alemanha cultural, cosmopolita, fonte de uma universalidade estranha a todos os particularismos étnicos. Goethe, com quem ele se identifica e no qual se projeta, é a figura de proa dessa Alemanha.
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PALAVRAS-CHAVE: República de Weimar; nazismo; cosmopolitismo; literatura alemã.
A sociologia não pode deixar de se interrogar sobre o lugar do escritor no espaço político. Habermas mostrou recentemente o papel da esfera pública literária na constituição do espaço público nos séculos
XVII e XVIII. A esfera pública política é, diz ele, “originária de sua forma literária, e as opiniões públicas que dela emanam representam um papel de mediador entre as necessidades da sociedade e o Estado” (Habermas,
1978, p.41). Podemos considerar que a dissidência dos países do Leste europeu enquadra-se no mesmo tipo de análise. A posição dos escritores de língua alemã que tomaram partido publicamente contra o nazismo, e aos quais Albrecht Betz (1991) dedicou recentemente um belo livro,3 é mais complexa. Primeiro em razão de suas origens múltiplas, de sua
1 Tradução de Nelson Luís Ramos – Departamento de Letras Modernas – Instituto de Biociências,
Letras e Ciências Exatas – UNESP – 15054-000 – São José do Rio Preto – SP – Brasil.
2 Universidade de Paris VII – Denis Diderot.
3 Cf. também Jean-Michel Palmier, Weimar en exil, Paris, 1990.
Trans/Form/Ação, São Paulo, 20: 71-86, 1997
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diversidade ideológica e de sua situação de exilados. Aqueles que pertenciam a um movimento já constituído (o sionismo de Hannah
Arendt, o comunismo de Brecht ou Anna Seghers) puderam agir e tomar a palavra a partir