O mundo no vermelho
No início de maio, ao assumir o posto de secretário do Tesouro britânico, o liberal-democrata David Laws recebeu um curioso bilhete de seu antecessor, o trabalhista Liam Byrne. "Caro secretário", dizia o bilhete, "o dinheiro acabou. Boa sorte!!! Cordialmente, Liam." Apesar do tom ligeiramente galhofeiro, o recado de Byrne é de uma precisão desconcertante. O país não tem dinheiro - mesmo. Com um rombo orçamentário que pode chegar a 12% do PIB em 2010, o Reino Unido passa por uma situação de penúria como há muito não se via. As agências de classificação de risco já avisaram que um rebaixamento da dívida britânica, algo impensável poucos anos atrás, é cada vez mais provável. Mais do que resumir a situação britânica, porém, Byrne e seu bilhete ajudaram a sintetizar a situação das maiores potências econômicas do planeta. A crônica falta de dinheiro é hoje um mal bastante disseminado entre os países mais ricos do mundo. Recentemente, uma equipe de pesquisadores do Citigroup estudou a história das finanças mundiais desde a Revolução Industrial até os dias de hoje. A conclusão é um tanto assustadora. Nunca, excetuando-se períodos de guerras mundiais, deveu-se tanto - e, pior, nunca a dívida global cresceu de forma tão descontrolada.
Países mergulhados no vermelho caminham sobre uma fina linha que separa a confiança dos credores do medo de um possível calote. Basta passar a impressão de que se está pisando no lado errado da linha, e pronto: têm-se os ingredientes para uma crise da dívida. É um roteiro conhecido e recorrente. De 1800 até hoje, já houve mais de 300 calotes soberanos, e o medo de que a história se repita - desta vez tendo países ricos como vilões - deu origem à crise das últimas semanas. No dia 9 de maio, a União Europeia e o FMI anunciaram o maior plano de resgate da história, um pacotaço de 1 trilhão de dólares cujo objetivo é eliminar riscos de calote dos países mais problemáticos da zona do euro. Pelo que foi acordado, a