O mundo falava arabe
n. 10 – setembro 2012 - Resenhas ESPECIAL RESENHA:
BISSIO, Beatriz. O mundo falava árabe: a civilização árabe-islâmica clássica através da obra de Ibn Khaldun e Ibn Battuta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. Murilo Sebe Bon Meihy1
A historiadora, cientista política e jornalista Beatriz Bissio inaugura seu trabalho abrindo os olhos do leitor para o fato de que no século XIV o mundo falava árabe. A autora se refere ao valor que os escritos produzidos por intelectuais e viajantes islâmicos desse período têm para toda a humanidade. Mais do que a fala, a civilização árabe-islâmica foi capaz de produzir uma série de obras que reflete um esplendor cultural não limitado a fronteiras geográficas e religiosas. Se os clamores árabes do século XIV não ecoam no mundo contemporâneo, o problema está no silêncio a que atualmente as reflexões de homens como Ibn Khaldun e Ibn Battuta encontram-se submetidas. O primeiro dos méritos de Bissio é dar voz a esses importantes narradores, considerando, sobretudo, chaves interpretativas extraídas da própria cultura árabe-islâmica, sem a chancela de qualquer discurso de autoridade e superioridade de outra civilização. O segundo mérito de Bissio é, após a valorização das fontes e de seus autores, apresentar o Islã do século XIV por meio de um fio condutor oportuno: o conceito de espaço no interior da geografia islâmica. O elemento inaugural que da forma à definição de espaço trabalhada em O mundo falava árabe é o próprio contexto histórico do Mediterrâneo do século XIV, permeado por cenários de crise econômica e disputas políticas. O projeto de um império islâmico em expansão existente a partir do profeta Muhammad, no século VII, dava sinais de que a manutenção da unidade político-administrativa de um domínio que passara a percorrer desde as estepes asiáticas até o Norte da África e a Península Ibérica seria uma tarefa difícil para um único califa. Como viajantes e eruditos de seu tempo,