O motim da "carne sem osso e farinha sem caroço" - ideias centrais
Graduando em História pela UNEB.
REIS, João, AGUIAR, Gabriela. “„Carne sem osso e farinha sem caroço‟: o motim de 1858 contra a carestia na Bahia”. Revista de História (USP), 135 (1996), pp. 133-161
RESUMO O motim denominado “carne sem osso e farinha sem caroço”, foi mais um movimento popular baiano dentre tantos outros ocorridos na Bahia oitocentista. Entretanto, nesse caso, mais que em qualquer outro, a carestia e escassez de alimentos de primeira necessidade provocou um rompimento com valores morais coletivos pré – estabelecidos, uma ruptura com o que Thompson chamou de “economia moral da multidão”, conceito geralmente aplicado às sociedades onde predominam a prática paternalista, o que gerou uma insatisfação popular sem precedentes em Salvador, caracterizando o que a historiografia inglesa chamaria de um clássico “food riot”.
IDÉIAS CENTRAIS
A gênese do movimento se dá quando a Câmara Municipal de Salvador publica no Jornal da Bahia, em janeiro de 1857, uma nota oficial estabelecendo que a farinha de mandioca teria a partir de então, locais específicos para ser comercializada, principalmente no Celeiro Público. Essa medida já visava controlar os altos preços mantidos por monopolistas e atravessadores, que muitas vezes compravam o produto ainda em seu local de produção, ou seja, no recôncavo, o que lhes propiciavam mais lucro.
O então presidente da província José Lins Vieira Cansanção de Sinimbu inicialmente aparentou apoiar a medida dos vereadores, chegando até a passar o controle do Celeiro Público para a Câmara. No entanto, sua verdadeira ideologia política e administrativa era outra, sua formação européia o aproximou bastante do liberalismo econômico, tornando – o um adepto das idéias de Adam Smith. Bastou algumas reclamações de comerciantes para que ele suspendesse a medida estabelecida pela câmara, acreditando que a livre concorrência por se só estabilizaria os preços dos produtos. Entretanto, na assembléia provincial