O moderno principe
Paulo Roberto de Almeida∗ **
Resumo: Releitura da obra clássica de Maquiavel, adaptando seus argumentos sobre os tipos de regimes e sobre a natureza da dominação política às características dos Estados modernos, divididos em democracias e simulacros de democracia. A despeito da aparente similaridade entre as modernas democracias de mercado, cada um dos Estados capitalistas contemporâneos apresentam peculiaridades próprias, assim como são distintos os regimes existentes na América Latina. Palavras-chave: Tipos modernos.América Latina. de dominação. Maquiavel. Estados
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PAULO ROBERTO DE ALMEIDA é Doutor em Ciências Sociais, Mestre em Planejamento Econômico, Diplomata de carreira. ** O presente artigo constitui uma adaptação dos capítulos 1, 3 e 4 de meu livro O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado). Brasília: Senado Federal, 2010.
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Dos regimes políticos: democráticos e os outros
os
Maquiavel pretendia, em um curto capítulo inicial ao seu De Principatibus, que todos os estados e todos os governos que tinham exercido ou que ainda exerciam certo poder sobre a vida dos homens fossem apenas de dois tipos: ou eram repúblicas ou principados. Estes últimos seriam do tipo hereditário, ou seja, descendente de antigas linhagens, ou novos, isto é, adquiridos pela via das armas, fossem estas armas alheias ou as do próprio príncipe, devendo este a sua posse à sua boa sorte (fortuna) ou ao seu próprio mérito (virtù).
uma democracia unicamente para os patrícios, como na Roma republicana. Nos tempos modernos, as democracias assumiram a forma representativa parlamentar, incorporando progressivamente todos os estratos da sociedade, como no exemplo britânico, a mais longeva democracia conhecida na era moderna.
Houve um tempo, até meados do século 20, em que as democracias conformavam um arquipélago muito reduzido de países, quase todos no hemisfério norte,