O MITO NAS HIST RIAS EM QUADRINHOS
A idéia de unir os temas de mito e história em quadrinhos é muito própria, pois ambos parecem ser uma espécie de “primos pobres” em comparação com um outro par formado por “filosofia e literatura”. Enquanto estes dois últimos são socialmente valorizados como produtos nobres da razão e da criatividade humana, ao mito e à história em quadrinhos parece ser reservado um lugar inferior, identificado com aspectos negativamente carregados como “mentira”, “invenção”, “produto de massa”. No entanto, o estudo dos mitos e da história em quadrinhos afirma-se repetidamente não como um subproduto acadêmico e cultural, mas sim como uma forma “alternativa” de apreender o universo e a relação do homem com o mundo natural e social e de expressar essa interação de um modo não apenas racional, mas também intuitivo e emocional, buscando a totalidade do ser humano. O mito passa a ser encarado como uma necessidade universal em qualquer época, não mais sendo visto como exclusividade de grupos menos desenvolvidos (JABOUILLE, 1986, p. 46), o que faz com que seja percebido como um fenômeno presente na sociedade contemporânea:
E não se deve ignorar, por outro lado, a concretização mitológica contemporânea, os “novos mitos” que surgem, que nos cercam e que nos definem: James Bond, Mickey Mouse, Superman, Rambo, a sociedade sem classes, o sexo, a política, a guerra das estrelas, etc. /.../ A “ciência dos mitos” contribui com uma compreensão mais geral e profunda, para um conhecimento do homem, do microcosmo que ele é e do universo em que se integra. Referente cultural, o mito atualiza-se, permanece vivo; por vezes adormecido, pode surgir numa erupção violenta e construtiva. (JABOUILLE, 1986: 117-8)
Dentre as várias tentativas de conceituar o mito, utilizo aqui uma concepção ampla baseada em C.G. Jung e em sua teoria dos arquétipos, entendidos como manifestações de um inconsciente coletivo, “isto é, os traços