O mito fáustico em grande sertão
Resumo:
O presente trabalho enfoca a reelaboração do mito fáustico, realizada por Guimarães
Rosa, identificando como tal mito é incorporado à narrativa de Grande Sertões
Veredas.
Palavras-chave: mito fáustico – pacto – demônio
O mito fáustico em Grande sertão: veredas
Ada Maria Hemilewski1
O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. (Guimarães Rosa)
O mito fáustico existe muito antes de Goethe ter escrito sua obra Fausto.2 A primeira versão literária surge em 1587, em Frankfurt. É intitulada Livro Popular e conta a vida de um homem que fazia acordos com o demônio. No entanto, o tema não é novo, pois aparece, com freqüência, em narrativas medievais. Sua originalidade consiste no fato de que Fausto alia-se a Mefistófeles movido pela sede de conhecer e não para conquistar riquezas ou gozar os prazeres do mundo.
Muitas lendas e histórias giram em torno dessa figura, cuja origem é real, pois entre 1480 e 1540, teria vivido na Alemanha um indivíduo chamado Georg Faust, que se intitulava “filósofo-mor entre os filósofos”. Praticava a astrologia, era vidente e profeta, dizia-se médico e afirmava ser capaz de reanimar os mortos, sendo também famoso por suas alianças diabólicas e seus feitos considerados sobrenaturais.
Na tragédia de Goethe, Fausto alia-se a Mefistófeles com o objetivo de superar a insatisfação que sente perante a realidade, buscando a perfeição:
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Ada é doutora em Teoria da Literatura pela PUCRS e é professora de Literatura Brasileira na URI-FW.
GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Tradução de Jenny Klabin Segall. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997.
Não penso em alegrias, já to disse.
Entrego-me ao delírio, ao mais cruciante gozo,
Ao fértil dissabor como ao ódio amoroso.
Meu peito, dá ânsia do saber curado,
A dor nenhuma fugirá do mundo,
E o que a toda humanidade é doado,
Quero gozar no próprio Eu, a fundo,
Com a alma lhe colher o vil e mais