O mito de medéia de eurípedes
Quando Jasão conquistou o velocino de ouro e a nau Argos velejava com Medéia rumo à Grécia, o sonho da princesa parecia realidade. (...) Quem ainda se lembrava do monstro? Contudo, para o herói, o monstro jamais é um só. Por isso se deixa esquecer; todo monstro é um prelúdio ao monstro sucessivo. E mais fácil que a princesa seja esquecida. Os monstros possuem uma identidade difusa, que se encontra e se repete em cada fragmento do monstro, ao passo que cada mulher é um perfil e, a todo momento, um novo perfil pode encobrir os outros. Assim, as histórias entre os heróis e as princesas tendem a terminar mal (CALASSO, 1990, p. 225).
Frutos da fantasia dos gregos antigos, deuses e heróis povoaram a terra, preenchendo a lacuna existente entre a realidade natural e a sua compreensão por parte dos seres humanos. Entidades simbólicas, os mitos gregos representam, na verdade, o esforço de o homem captar as leis que regem o universo e demonstram o quão rica e ilimitada é a imaginação humana. Em função de seu potencial simbólico, a mitologia grega, superando tempo e espaço, sobreviveu ao domínio do logos, renascendo das cinzas do Olimpo para alimentar, através dos séculos, a psicanálise, a literatura e as artes em geral. Exemplo limite desta tentativa de penetrar, pela fantasia, nos meandros da existência e da alma humana é o mito de Medéia, projeção imaginativa da fragilidade e das forças cegas que habitam o interior do próprio homem.
O MITO DE MEDÉIA
Medéia, no sistema mitológico da Antigüidade, é a mulher bárbara que, para ultrajar o marido infiel, afronta as leis humanas e divinas, matando os próprios filhos.
Para melhor entender o mito de Medéia, necessário se faz, no entanto, remontar a outra lenda da mitologia pagã: a conquista do velocino de ouro e a saga dos Argonautas. Junito Brandão (1987, p. 175-91) registra a seguinte versão: em Iolco, na Tessália, reinava Esão, que foi destronado pelo irmão Pélias. Jasão, filho de