O mito da desolação nativa
RESTALL, Matthew. Os índios estão se acabando: o mito da desolação nativa. In: Sete mitos da conquista espanhola. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p. 181-219.
FICHAMENTO DE LEITURA:
O texto trata da idéia da inatividade, do abandono dos nativos frente ao desenrolar da conquista e de sua prostração diante da inevitável vitória espanhola. Ao analisar cartas de religiosos, biografias, filmes produzidos sobre o tema, relato de pensadores do século XVIII, abordagens historiográficas contemporâneas, registros de cronistas do século XVI, entre eles o de Dom Huaman Poma descendente da dinastia imperial dos incas, que escreve uma cara ao rei da Espanha denunciando todo o sofrimento por qual tem passado o povo nativo das terras americanas, Suas denúncias das práticas corruptas de certas autoridades coloniais foram particularmente vívidas, pontuadas aqui e ali pela declaração de que a situação já se encontrava além de qualquer possibilidade de solução e pela aparente previsão da extinção dos andinos nativos. “Ecos do clamor, [...] em que os sons de um terremoto são convertidos em canto fúnebre, a espuma das corredeiras de um rio tornam-se lágrimas, o sol escurece, a lua se encolhe e... tudo e todos se escondem, desaparecem padecendo”; Como resultado desse longo contato, a historiografia dos vencedores salienta a destruição da cultura nativa diante da depredação e ação imperialista cultural européia e a “natural” predominância da cultura “superior” dos brancos. O poema de tom triste, escrito para a morte de Atahuallpa (Imperador de Cuzco), descreve o nascimento do caos causado pelo contato com o europeu; “[...] um abismo vazio pelo qual o universo se deixa devorar. Tudo que resta é o sofrimento’; seria a natureza do ‘trauma da conquista’ para os povos andinos, cuja razão de ser o senso de harmonia com o mundo deteriorou-se de forma inconsolável no rastro da destruição provocada pela invasão espanhola”. Outra visão do Mito