Ricardo Pais revisita, uma vez mais, o seu “O Mercador de Veneza” agora numa co-produção com o Teatro Municipal de Almada. Numa encenação limpa, profunda e muito ligada à importancia da palavra é apresentado um espectáculo com uma opção dramaturgica bastante evidente. Em conjunto com Daniel Jonas, a quem coube a tradução do texto de William Shakespeare, Ricardo Pais anula a mestria do autor em intrecalar cenas passadas em diferentes lugares, para dar origem a um espectáculo que não segue uma linha cronológica evidente mas que se foca na unidade de espaço. Num primeiro acto, ou numa primeira parte são apresentadas cenas passadas em Veneza e numa segunda parte, após um intervalo, a acção é passada em Belmonte. Esta mudança de espaços poderia sugerir uma mudança de cenário, mas tal não acontece. O espaço cénico é despojado, com uma grande amplitude cujo espaço de representação acontece em dois planos: um inferior, uma plataforma rectangular e um superior, numa abertura ao fundo, quase como uma varanda que abre e fecha consoante as cenas e o significado que quer imprimir. Este último pode remeter o espectador ao primeiro andar do Teatro Isabelino. Sendo as diferenças ao nivel do espaço cénico pouco evidentes de Veneza para Belmonte, as mudanças de ambiente surgem com efeitos de luz e particularmete de som. Utilizando o mesmo cromatismo entre branco, preto e vermelho o ambiente em Veneza é mais escuro com um som de àgua constante e uma música que trasmite a inquietação das personagens. Aliado a estes efeitos junta-se a estrutura de ferros suspensa do lado esquerdo (que quase até ao final julgamos pertencer exclusivamente ao ambiente de Veneza) que cria uma rispidez apenas pela sua persença mas também quando é utilizada para a produção de som. Ao contrário de Veneza, Belmonte introduz um ambiente mais sereno não visto até então. Devido ao facto de o espectáculo não seguir uma linha cronológica evidente, são apresentadas referencias e apontamentos que estabelecem uma