O mercado da arte
A partir de uma pesquisa empírica centrada em São Paulo, este artigo analisa o surto do mercado de arte ocorrido no Brasil entre 1960 e 1980, reconstituem suas precondições e aponta seu impacto sobre o campo das artes plásticas. Ao incorporar alguns elementos relativos à origem, trunfos e trajetória social dos agentes em concorrência (pintores, críticos e marchands de tableaux), busca entender um pouco acerca das bases sociais da luta pela apropriação legítima do lucro econômico. Tratar do assunto nesta perspectiva exige forçosamente observar a operação prática da cultura como capital no movimento incessante de transformação de lucro econômico em reconhecimento cultural e vice-versa.
PRECONDIÇÕES DO MERCADO DA ARTE
Para dar conta, ainda que brevemente, do conjunto das condições de possibilidade do surto mercantil, mencionem-se algumas iniciativas e transformações que se vinham processando na cidade de São Paulo, desde o último após-guerra.
A instalação de dois museus e de uma Bienal Internacional de Artes Plásticas, entre 1947 e 1951, mais a crônica de cultura que se rotinizou em jornais e revistas em franca expansão de público leitor, ajudaram a sintonizar os artistas e amantes da arte com as transformações em curso no plano internacional. As tarefas de gestão exigidas por essas iniciativas atraíram para São Paulo alguns estrangeiros já experimentados no trato com obras de arte e ofereceram oportunidades de iniciação a jovens brasileiros em tarefas de montagem de exposições, monitoria de visitantes, professorado de desenho e pintura, exercícios de crítica e, obviamente, de produção artística. As bienais internacionais (inauguradas em 1951) informavam quais os autores e as tendências em destaque na Europa e na América do Norte, constituindo uma inestimável fonte de atualização e a mais importante instância de consagração para os artistas brasileiros. Não foi por acaso que o italiano Giuseppe Baccaro, principal