O menino no espelho
O Menino no Espelho, terceiro romance de Fernando Sabino, foi lançado em 1982. Nesta obra o autor nos conta sobre sua infância em Belo Horizonte, na década de 20. Com sotaque mineiro, a criança Sabino nos narra de maneira bem fantasiosa todo o seu mundo imaginário e simples. Conta-nos como Odnanref, sua identidade secreta, aprendeu a voar como os pássaros, como ensinou uma galinha a falar, sobre sua visita ao Sítio do Pica Pau Amarelo, sobre seu cachorro Hidenburgo e seu coelho Pastoof. Fernando começa a brincadeira conversando com seu espelho, aos poucos o reflexo vai tomando forma e vida, tornando-se seu grande amigo e companheiro de todas as suas peripécias e aventuras de criança.
Fernando Sabino relata em primeira pessoa (a própria estrutura do livro é “memorialística”) prováveis episódios sucedidos em seus tempos de infância, porém entremeados por boas doses de ficção, insuflando vida a algumas fantasias próprias da imaginação pueril – o que acaba conferindo ao livro um certo caráter de realismo fantástico.
Como em Peter Pan, o menino Fernando encarna, através de várias de suas travessuras, sonhos e fértil imaginário, a vivacidade e a pureza próprias da criança – como na passagem da libertação dos passarinhos, um libelo metafórico em prol da liberdade e contra a opressão, aliado a uma certa tonalidade anti-militarista – em contraposição ao universo controlado e algumas vezes bestial dos adultos. É o eterno “embate” menino x homem, infância x idade adulta, e como a primeira define a segunda, além de tentar persistir em conservar o máximo possível de sua inocência e imaginação mesmo depois do “amadurecimento”.
Através da prosa simples, poética e próxima do coloquial, além de muitas vezes apresentar-se – sobretudo nas falas do garoto – numa linguagem infantil, Fernando Sabino reconstrói todo o universo particular e inteligente das crianças – respeitando-as na sua complexidade e individualidade -, concebendo-as como