O medo como modo de disposição
Veríssimo dos Santos Furtado Filho[2]
Martin Heidegger, Ser e Tempo, trad. por Marcia Sá Cavalcante Schuback. 3 ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2008.
DISPOSIÇÃO (=HUMOR)
Antes de falarmos sobre o medo como modo de disposição, faz-se necessário entender o que é disposição para Martin Heidegger. Heidegger indica a disposição como um termo ontológico representado onticamente como humor.
De acordo com o dicionário heideggeriano, segundo Marcia Sá Cavalcante Schuback:
“O étimo alemão Stimme (= a voz, o voto) constitui, na experiência que exprime, uma fonte de inúmeras derivações e composições. Como Stimmung, designa o estado e a integração dos diversos modos de sentir-se, relacionar-se e de todos os sentimentos, emoções e afetos bem como das limitações e obstáculos que acompanham essa integração. A tradução por “humor” empobrece essa riqueza conotativa. Não obstante, presta-se melhor do que “estado da alma”, “estado de ânimo””.
(Marcia Sá Cavalcante Schuback, Notas Explicativas de Ser e Tempo, 2008)
O FENÔMENO DO MEDO
Heidegger considera o fenômeno do medo segundo três perspectivas:
I) De que se têm medo;
I) O ter medo e;
III) Pelo que s tem medo.
A análise feita pelo filósofo indica as possíveis modificações do medo e de seus vários momentos estruturais.
I – DE QUE SE TEM MEDO
Heidegger chama o “De que se tem medo” de AMEDRONTADOR. Este é sempre um ente que vem ao encontro dentro do mundo e possui o modo de ser do que está à mão, ou do ser simplesmente dado, ou ainda da co-presença (o outro). Qualquer um destes pode tornar-se amedrontador.
Heidegger diz que o que pertence ao amedrontador como tal a ponto de vir ao encontro (da presença) no ter medo é chamado de ameaça.
Há um caráter de ameaça no amedrontador e isto implica que:
O amedrontador pode ser prejudicial;
O prejudicial visa o âmbito determinado daquilo que pode encontrar.