O juiz
Todo dia, toda hora, todo minuto, o Tomé só pensava numa coisa: queria virar super-herói.
Isso mesmo! Super-herói que nem esses dos filmes, da televisão, dos gibis. Queria voar pelo mundo, ficar invisível, ter braços de borracha, sair nos jornais, escalar prédios como aranha, ter força de gigante e visão de raio X! Supervelocidade, superouvidos!
O tempo todo ele passava pensando em como fazer para conseguir a tal transformação. Porque você vai concordar com uma coisa: é uma injustiça esse negócio de só algumas pessoas virarem super-heróis! E mais, uma gente boba que passa o tempo todo se escondendo, fingindo que não tem poderes ou correndo atrás de trens que descarrilham, de assaltantes de jóias, de roubos misteriosos. O Tomé não! Se ele fosse super-herói, ia saber aproveitar a vida!
“Ia esticar meus braços de borracha e pegar um carrinho cheio de sorvetes! Ia voar na doceria e sair carregando um bolo enorme! Entrava invisível no bar do Mané e enchia a barriga de pastel, kibe, esfiha e coxinha!”.
Não ia esconder a identidade de ninguém! Que bobagem, ia é mostrar o que é um superchute no jogo de futebol! (O Tomé jogava mal pra burro, volta e meia perdia a bola, viviam botando ele pra fora do time. Pois iam ver só, quando fosse super-herói!)
Ia ganhar bastante dinheiro e comprar uma casa nova pro pai e pra mãe, que viviam reclamando que não agüentavam mais pagar aluguel.
E na escola? Com a supermemória, ia ser um sucesso!
Se alguém enchesse a paciência, pluft! Com um sopro, mandava pra lua! E os sustos que ia pregar por aí? Imaginem só, chegar no prédio do Flávio, tranqüilamente, e entrar voando pela janela! Ele ia morrer de medo.
Quando o Tomé começava a pensar, nem conseguia pôr fim a tanta idéia.
Walcyr Rodrigues Carrasco. Cadê o super-herói? São Paulo, Quinteto