o Império da concorrência
O capitalismo tem-se transmutado ao longo dos últimos duzentos anos, seja sob a perspectiva de sua estrutura produtiva, dos atores sociais envolvidos na luta de classes, das instituições jurídicas que regem as relações econômicas, dos organismos internacionais que ordenam a economia mundial, do padrão de concorrência intercapitalista, dos mecanismos de intermediação financeira ou da forma de manifestação e superação de suas grandes crises.
A Transição para o Capitalismo
A transição para uma sociedade fundada em relações essencialmente capitalistas foi um processo histórico longo, que envolveu a transformação concomitante de toda a cultura ocidental (MACFARLANE, 1989). Na Europa ocidental, essa lenta transmutação do caráter das sociedades esteve associada a um conjunto de mudanças de ordem política e econômica. A partir do século XI, com o ressurgimento das cidades (burgos) e do comércio inter-regional, as relações sociais que davam coerência e continuidade ao antigo modo de vida feudal começaram a ser tensionadas (SWEEZY et al., 1977). A sociedade feudal era eminentemente hierárquica e estamentária, sendo a relação senhor/servo a relação básica que fundava a economia e a política do mundo feudal. A sociedade capitalista, ao contrário, prima pela defesa do direito à igualdade e à liberdade. A universalidade passa a ser garantida pelo direito positivo e pela afirmação de valores gestados no interior de uma das criaturas mais mitológicas da nova civilização: o mercado. Finalmente, predomina uma nova ideologia, segundo a qual a livre concorrência, princípio inspirador dos mercados capitalistas, aparece associada a uma aspirada mobilidade social e a uma saudável concorrência entre “iguais”. Tal sociedade, como se pode constatar, apenas se materializou historicamente após as