O imigrante feliz
Imigrante
Feliz
Mario Puzo
O
Imigrante
Feliz
Tradução de
CARLOS NAYFELD
Digitalização: Argonauta
PARTE I
Capítulo 1
Larry Angeluzzi esporeou briosamente seu cavalo preto retinto, em meio a um barranco formado por dois grandes muros de tijolos, e no pé de cada muro, ilhadas em suas calçadas separadas cinza-azuladas, as crianças pararam de brincar para contemplá-lo com muda admiração. Ele formou um grande arco com o foco de luz de sua lanterna vermelha; faíscas saltavam dos cascos de ferro de seu cavalo, quando batiam nos trilhos do trem, iluminando as pedras da
Décima Avenida, e seguindo lentamente o cavalo, o cavaleiro e a lanterna vinha o comprido trem de carga, aproximando-se vagarosamente da estação terminal do St. John's Park, na Rua
Hudson.
Em 1928, a Estrada de Ferro Central de Nova York utilizava as ruas da cidade para estabelecer a ligação ferroviária urbana entre as zonas Norte e Sul, mandando "batedores" a cavalo para alertar o tráfego. Daí a mais alguns anos isso terminaria, construindo-se uma passagem elevada. Mas Larry Angeluzzi, sem saber que era o último dessa classe de "batedores", que dentro em pouco seria apenas uma apagada recordação da história da cidade, cavalgava tão ereto e arrogante como qualquer vaqueiro do Oeste. Suas esporas eram brancas, sapatos de tênis pesados, usava um boné pontudo enfeitado com botões característicos. Suas calças azuis eram presas no tornozelo com brilhantes pregadores metálicos de ciclista.
7
Larry galopava na noite quente de verão, seu deserto era uma cidade de pedra. Mulheres tagarelavam sentadas em caixotes de madeira, homens postados nas esquinas tiravam baforadas de seus charutos, crianças arriscavam a vida numa brincadeira perigosa, deixando suas ilhas cinza-azuladas para subir no trem de carga em movimento. Todos se moviam à luz amarela esfumaçada dos postes e das lâmpadas esbranquiçadas das vitrinas das confeitarias. Em cada cruzamento, uma