O Humano E O Inanimado No Teatro
INSTITUTO DE ARTES
Laboratório de Formas Animadas e Visualidades – Wagner Cintra
Bárbara de Moura Araújo
O HUMANO E O INANIMADO NO TEATRO: DIVERSAS RELAÇÕES, INUMEROS JOGOS CÊNICOS
Dando à arte teatral o caráter, simplório porém sensato, de canal de expressão e reflexão humana acerca de sua própria existência, podemos tomar a utilização, com significância além da funcional, de bonecos, objetos e matéria por multiplicação incomensurável das possibilidades cênicas. O instinto humano de reconhecer-se nas formas materiais ou animais (o mesmo que faz com que vejamos rostos em pedras, bocais de tomadas), possibilita que o sentimento de aproximação, que faz com que espetáculos afetem o público, também seja presente no teatro de objetos. Animar, pôr alma, dar seu sopro de vida a algo inanimado é um privilégio próximo ao sagrado, não era à toa que as divindades eram representadas com jogo de máscaras, sendo mais considerável que estas “vestiam” o sacerdote, e não o contrário. Semelhantemente ocorre quando teatralmente falamos: a máscara existe, no sentido de que ela tem caráter próprio, e quando “colocamo-las”, devemos “ouvi-las”, senti-las, para dá-las vida através da nossa, não simplesmente nos mostrarmos com o rosto coberto. A máscara toma o corpo todo. No tocante a animação de bonecos, o tratar tradicional os caracteriza apenas como representações antropomórficas, e os atores-manipuladores como demiurgos: características explicitadas pelo cuidado de nunca mostrar os mecanismos de condução, criando uma aparência de onipresença dos manipuladores, e o não-jogo entre bonecos e humanos. Mesmo assim, podemos por em cena situações e figuras que, no “teatro convencional” seriam quase que impossíveis de figurar. Quando se afrouxa os laços com os conceitos clássicos, o leque de inúmeras possibilidades se multiplica ainda mais e nos é permitido contemplar, ainda que sem a visita de Morpheus, verdadeiros quadros