O homem
O homem:
“ De uma cantante alegria onde riem-se as alvas uiaras
Te olho como se deve olhar, contemplação,
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E a lâmina que a luz tauxia de indolências
É toda um esplendor de ti, riso escolhido no céu”
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(Mário de Andrade, “Girassol da Madrugada”).
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A LINGUAGEM NÃO-VERBAL
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As expressões faciais constituem uma parte significativa do processo de comunicação humana. Trata-se de um vasto repertório de sinais silenciosos, não-verbalizados, por meio dos quais são transmitidas mensagens pertinentes ao nosso humor e estados emocionais. Na medida em que as expressões faciais têm lugar em condições sociais determinadas e influenciam os contatos entre as pessoas, desempenham elas relevante papel na regulação da interação social. Assim, por exemplo, o soerguimento das sobrancelhas, acompanhado em geral de um sorriso, é típico nos rituais de saudação e traduz o desejo de interagir (Knapp & Hall,
1999, p. 63).
As expressões estampadas no rosto também se prestam a julgamentos estereotipados acerca da personalidade e do caráter das pessoas. Não é de hábito que, num primeiro contato, os que nos sorriem calorosamente sejam definidos como simpáticos, enquanto os de “cara amarrada” recebam o rótulo de antipáticos?
Os humanos compartilham com outros primatas um certo número desses complexos sinais faciais. Todavia, determinadas expressões, especialmente as mais sutis e nuançadas, como, por exemplo, as que traduzem surpresa ou asco, ademais do riso e do sorriso, parecem manifestar-se exclusivamente em nossa espécie
(Young, 1992; Morris, s.d., p. 257). Ou seja, o homem é o único animal que ri; e o riso figura entre as expressões de estados psíquicos mais altamente contagiosas (Freud, s.d., vol. V).
REVISTA USP, São Paulo, n.60, p. 106-113, dezembro/fevereiro 2003-2004
animal que ri
RENATO DA SILVA QUEIROZ
Este trabalho é dedicado aos Doutores da Alegria, inimigos incansáveis do sofrimento, da tristeza e da dor.