O homem e o tempo
A modernidade não sabe o que fazer com o tempo. Ele sobra ou falta; eis tudo. Quantificado, mecanizado, o tempo morre enquanto transição, mudança, promessa, novidade. Fica o tempo como espaço a ser preenchido; o tempo que se mata: passa-tempo.
Sintomas disso são os velhos e os jovens de hoje. Igualmente, não se sabe o que fazer com eles. Consequentemente, “o idoso deve regredir à ‘melhor idade’, e o jovem deve imitar um adulto o quanto antes, para que enfim fiquemos livres deles!” – assim pensa o moderno. O que os assemelha é que, desse ponto de vista tão “atual”, devem aprender a negar em si mesmos aquilo que os caracteriza: a passagem do tempo, o serem épocas de transição no homem.
Não se compreendendo, não compreendem o outro. O velho critica o jovem por sua impulsividade, mas gostaria de ter algo da juventude dele. O jovem não aceita as sugestões dos mais experimentados, mas gostaria de encontrar alguma continência para si (a encontra geralmente na pura oposição). Quem tem razão?
Ambos terão as suas. A bem da verdade, é difícil alguém não ter razão. De nosso ponto de vista todos acertamos, por pouco que seja. Por outro lado, dificilmente se estará certo ao negar-se a si mesmo. Sem contar o fato de que uma tal negação dificilmente obteria resultados positivos (por motivos óbvios), como as partes envolvidas podem dar o melhor de si, negando o que os caracteriza? Como podem vivenciar e colher para si o melhor de sua época se se começa por renegá-la?
Quiçá o melhor passe longe disso. Velhos e moços podendo completar-se mutuamente, o jovem buscando no velho a acolhida e a experiência em ser passagem que aquele justamente pode dar; o velho aliando-se à vida e ao futuro, deixando o melhor de si naqueles que ficarão quando ele partir. Mas para isso é preciso, como ficou dito, entender a si mesmo, acolher-se enquanto passagem. E é isso exatamente o que a modernidade não quer.
Também ela terá suas razões para isso.