Os discursos sobre o corpo vão variando no curso da história. O material significante que a cultura atual aporta para construir um discurso sobre o corpo não pode deixar de lado algumas ressonâncias de novas descobertas. Durante muito tempo a psicanálise pensou que a pulsão epistemofílica e o desejo de conhecer nasciam a partir da pergunta (sem informação prévia, proveniente dos adultos) sobre como nascem as crianças. Ali aparecia esse investigador, esse pequeno teórico que logo, mediante sublimação, transladaria esse interesse desde os objetos sexuais para outros objetos "socialmente aceitáveis". Mas as crianças de hoje em dia podem conhecer a resposta ainda antes de formular a pergunta de viva voz. O Génesis, escrito por mãos e significações masculinas, não só encarna o mito sobre a origem da humanidade como também sobre o que é um homem e o que é uma mulher. Aparecem, pois, ali, três questões fundamentais, entrelaçadas: a origem da humanidade, a origem da diferença dos sexos e o perigo que o conhecimento implica. A prestigiada revista científica Science publicou um artigo que corrobora que a humanidade inteira descende de uma só mulher que viveu na África saariana há uns 200 mil anos. Trata-se de uma pesquisa do Dr. Mark Stoneking, da Universidade da Pensilvãnia, baseada no método do relógio genético, que consiste na comparação de diversas mostras de genes. Estes mesmos leitores ligam a televisão que lhes impõe múltiplas imagens, histórias, notícias fragmentadas, todas elas com uma vertiginosidade que não lhes exige mover-se nem pensar, mas que vão incidindo na construção do seu corpo sexuado. As imagens, sendo produto dos mitos, são produtoras de subjetividades. O sistema social, que até meados deste século proclamava para as mulheres "a sexualidade reprodutiva" como única maneira de pensar a sexualidade (separando-a do prazer e do desejo), começa a preocupar pelos efeitos da superpopulação, e então o "planejamento familiar" transforma-se em um novo