O homem que sabia demais
Sabia Demais
Alan Turing e a
Invenção do
Computador
David Leavitt
Tradução
Samuel Dirceu
Para Mark – amigo, camarada, parceiro
Sumário
1 O Homem do Terno Branco
2 Vendo as Margaridas Crescerem
3 A Máquina Universal
4 Sutil é o Senhor
5 A Casca Macia
6 O Atleta Eletrônico
7 O Jogo da Imitação
8 A Boia de Pryce
Notas
Leitura Complementar
1
O Homem do Terno
Branco
a comédia The Man in the
White Suit (O Homem do
Terno Branco), produzida pela
Ealing1 em 1951 e dirigida por
Alexander Mackendrick, Alec Guinness
N
é Sidney Stratton, um químico inseguro e meio infantil que desenvolve um tecido que nunca desgasta ou fica sujo. Sua invenção é proclamada como um grande passo à frente – até que os donos da indústria têxtil da qual ele é empregado, ao lado dos dirigentes do sindicato que representam seus colegas de trabalho, percebem que o invento vai colocá-los fora dos negócios. Rapidamente esses eternos adversários unem forças para perseguir e encurralar Stratton e destruir o tecido que ele inventou, que usa sob a forma de um terno branco. Eles o perseguem, cercam e, quando parecem prestes a matá-lo, o tecido começa a se desintegrar. O fracasso do invento acaba salvando Stratton da indústria que ele
ameaça e salva a indústria da obsolescência. Obviamente, qualquer paralelo estabelecido entre Sidney Stratton e
Alan Turing – matemático inglês, inventor do computador moderno e arquiteto da máquina que quebrou o código da Enigma2 dos alemães durante a Segunda Guerra Mundial – deve por necessidade ser inexato. De um lado, esse paralelo exige que vejamos Stratton
(especialmente como desempenhado pelo gay Guinness) como, no mínimo, uma figura proto-homossexual e interpretemos sua perseguição como uma metáfora para a mais generalizada perseguição dos homossexuais na
Inglaterra, antes da descriminalização dos atos de “enorme indecência” entre homens adultos ocorrida em 1967. Essa