O homem que nao vendeu sua alma
Fabrício Teixeira Neves** Obras de arte têm, entre suas características, a atemporalidade , ou seja, a permanência das questões humanas postas em representação. Instigam constantes atualizações em função mesmo da variabilidade das circunstâncias históricas, mas sempre ao sabor, é claro, do ponto de vista em que se situa o analista. Exatamente 40 anos separam a data de estréia do filme A Man For All Seasons (“O Homem Que Não Vendeu Sua Alma”) – ganhador de seis óscares, incluindo o de melhor filme – e as eleições de 2006 no Brasil. Todavia, nada mais atual do que a problemática colocada pela fita do cineasta vienense Fred Zinnermann, baseada na peça teatral de Robert Bolt. A história, de base verídica, está centrada na figura de Thomas More (c.1477-1535), chanceler, jurista e filósofo moral inglês, autor do clássico Utopia. Passa-se na Inglaterra do século XVI: o rei Henrique VIII, convencido de que sua esposa espanhola Catarina de Aragão não lhe daria herdeiros homens, tenta junto ao Vaticano a dissolução de seu matrimônio para se casar com a amante, Ana Bolena. Temendo perder a amizade do rei espanhol Carlos V, sobrinho de Catarina, o papa Clemente VIII recusa o pedido de divórcio. Em face disso, Henrique VIII extingue por completo a autoridade do papado na Inglaterra com o Ato de Supremacia, de 1534, tornando-se chefe supremo da Igreja Anglicana. Quando aí pressionado a jurar fidelidade ao monarca, Thomas More, católico radical, prefere manter o silêncio diante da questão. Inicia-se então uma perseguição política contra More que, acusado de traição, é encarcerado na Torre de Londres e levado a julgamento. Motivado por uma forte convicção religiosa, More permanece inabalável frente às pressões do soberano. A seus juízes afirma: “não faço mal a ninguém; não falo mal de ninguém; não penso mal de ninguém. E se isso não é suficiente para que um homem possa viver, de boa-fé eu não desejo viver.” Finalmente, em