“O homem cordial”. in: holanda, sérgio buarque de. raízes do brasil. são paulo: companhia das letras, 2008.
* O Estado não é uma ampliação do círculo familiar, nele não há integração de agrupamentos e vontades particulares tal qual se faz na família. O que existe entre o Estado e o círculo familiar é uma descontinuidade, uma oposição. Diferem na essência, a cidade, o Estado é abstrato, é impessoal, a família por sua vez tem realidade concreta e tangível. A lei geral suplanta a particular, logo, o Estado, impessoal, leva vantagem sobre a família. * Só quando se transgride a ordem familiar é que nasce o Estado, que o indivíduo se faz cidadão, se faz contribuinte, eleitor e responsável ante as leis da cidade, nesse caso ocorre o triunfo do geral sobre o particular. * A estrutura familiar que predominava nas antigas relações de trabalho, nas velhas corporações que se formavam tal qual uma família (com os mesmos confortos e privações para todos) foi substituída pelo sistema industrial, pelo sistema que separa empregado e empregador. Esse ultimo suprimiu a atmosfera de intimidade e estimulou os antagonismos de classes, o trabalhador, nessa nova forma de relacionar-se, se torna um número, não há mais relação humana. * Nesses dias, a educação familiar, de acordo com psicólogos, deve ser apenas uma espécie de estágio preparatório, uma introdução à vida na sociedade. O indivíduo está cada vez mais se separando nas “virtudes” familiares, por isso a importância de se estimular a aquisição da individualidade na infância, pois, a sociedade em seus conceitos atuais é dotada de certas virtudes antifamiliares. * Não era fácil para os detentores de posições públicas, formados pelo ambientes familiares e patriarcais, compreenderem a distinção entre o domínio privado e público. Existem dois tipos de funcionários, o patrimonial e o burocrata, foi o primeiro que prevaleceu no Brasil, aquele que em sua gestão política seus interesses particulares eram