O golpe e a ditadura
Militares, políticos e empresários tramavam contra o governo havia meses, mas a articulação entre os vários grupos de conspiradores era frágil. Embora o núcleo mineiro ao qual Mourão estava ligado fosse um dos mais ativos, ele não consultou ninguém antes de pôr suas tropas em marcha. Conspiradores de outros Estados foram surpreendidos e não sabiam como agir. Não havia um plano para sublevar outras unidades militares, nem um líder para conduzir a rebelião.
Mesmo assim, Jango caiu em dois dias, sem que fosse disparado um tiro contra o governo. As tropas de Mourão dispunham de pouco armamento e demoraram horas para começar a se mover. Os destacamentos enviados pelo governo para conter os rebeldes mudaram de lado assim que os encontraram. Oficiais que até o dia 31 juravam fidelidade ao presidente o abandonaram no dia seguinte. A facilidade com que os militares alcançaram seu objetivo em 1964 até hoje causa espanto.
“Agitações, tumultos e choques sangrentos”
Fazendeiro gaúcho que fora ministro do Trabalho de Getúlio Vargas e era seu principal herdeiro político, Jango sempre foi alvo de desconfiança entre os militares. Essa antipatia começara a ser demonstrada com mais força em 1961, quando o presidente Jânio Quadros renunciou e os três ministros militares divulgaram um manifesto contra a posse de Jango, que era o vice-presidente eleito.
O documento descrevia Jango como um agitador com simpatia pela União Soviética e pela China, que promovera a “infiltração” do comunismo nos sindicatos de trabalhadores