O Garoto Selvagem
“O menino selvagem” (intitulado no Brasil como “O garoto selvagem”), é um filme esplêndido em todos os sentidos, tanto nos aspetos formais, como nos seus conteúdos, e, sem dúvida alguma, um dos filmes pedagógicos mais extraordinários de quantos se tenham realizado. Uma genial obra-mestra, baseada ademais em factos reais que no seu dia aconteceram numa povoação da França.
Um dos maiores desafios da educação em todos os tempos é a educação de crianças em situação de total ou parcial marginalidade. Ainda é hoje o dia que continuam a aparecer em bastantes países civilizados, crianças que pelo seu abandono, maus tratos, isolamento ou encarceramento, têm todas as caraterísticas das crianças selvagens, já classificadas e estudadas no seu momento pelo sueco Linneo (1707-1778). O interesse de expertos, médicos, psicólogos e pedagogos em socializar estas crianças é um fenómeno comum em todo o mundo. Esta dúvida atormentou sempre os filósofos e outros profissionais preocupados pela condição humana, espertando o interesse desde o século XIX. Para que o homem selvagem não provocasse medo e se convertesse num ser aceitável socialmente falando, foi necessária a intervenção da ficção, a criação de um herói como Tarzan, capaz de conservar a sua humanidade, enquanto desenvolvia ao mesmo tempo um corpo atlético e conseguia os sentidos similares aos dos animais. Truffaut, com este seu filme, em que também faz de ator, interpretando magistralmente o Doutor Itard, que reeduca o menino selvagem protagonista, com estratégias didáticas muito acertadas, faz-nos entrar na problemática educativa das crianças abandonadas, da mão do cinema, animando-nos também a pesquisar a partir do filme sobre os fundamentos históricos do mesmo, os seus protagonistas reais e sobre outras situações similares. Empregando técnicas procedentes de campos muito diversos, como o uso da voz em “off” do documentário ou os fechamentos do íris do cinema mudo, o diretor galo propôs com este seu