o fundamentalismo em tempos de pluralismo religioso
Faustino Teixeira
PPCIR/UFJF
Resumo: O texto busca apresentar algumas razões que explicam a emergência do fundamentalismo em tempos de globalização e pluralismo religioso. Depois de uma breve caracterização da globalização e da emergência de uma “ordem social pós-tradicional”, busca-se situar o fenômeno do fundamentalismo como uma reação à contaminação cognitiva que acompanha o pluralismo, e em particular ao clima de incerteza que se instaura na nova dinâmica da modernidade.
Um dos fenômenos característicos de nosso tempo e que produz impactos decisivos sobre a religião é o dado da globalização, entendida como a afirmação de uma nova consciência global e planetária, que incide sobre a sociedade e os indivíduos. Trata-se de uma globalização intensificadora, que não se restringe a uma dimensão econômica, mas diz respeito “à transformação de contextos locais e até mesmo pessoais de experiência social”[1]. Atividades locais e cotidianas passam a ser influenciadas ou mesmo determinadas por acontecimentos que ocorrem do outro lado do mundo, bem como hábitos ou estilos de vida. Este fenômeno incide igualmente sobre os sistemas de crença, cujos confins simbólicos não conseguem mais controlar suas “fronteiras”. Os símbolos religiosos transgridem seus confins originários, e passam a circular livremente, podendo inclusive ser utilizados por atores religiosos distintos.
Com a globalização ocorre um “processo de decomposição e recomposição da identidade individual e coletiva que fragiliza os limites simbólicos dos sistemas de crença e pertencimento”[2]. Diante da “contaminação cognitiva” favorecida pela globalização e a insegurança que acompanha a incidência do pluralismo sobre as estruturas de plausibilidade dos sujeitos concretos, dois desdobramentos podem ocorrer. De um lado, a demarcação de identidades particulares, ou seja, o refúgio em universos simbólicos que favoreçam a