O frade e o colportor
Januário, nosso colportor, encaminhou-se para a estação de Gameleira, com a intenção de oferecer os seus livros aos passageiros, querendo aproveitar aquela oportunidade valiosa. Frei Afonso, um frade bastante conhecido na região, havia concluído ali uma "santa missão", e estava partindo naquele trem. Uma grande aglomeração de “fiéis” se reunira na estação para vê-lo partir. Frei Afonso era inimigo declarado do Evangelho, grande perseguidor do mesmo e muito orgulhoso de suas atitudes. Habitualmente a parada do trem em cada estação era limitada a uns cinco minutos, mas naquela manhã houve um atraso inesperado, o qual deu ao nosso vendedor de bíblias tempo suficiente para aproximar-se e oferecer as Escrituras, percorrendo na plataforma toda a extensão do trem.
De repente, ele encontrou-se com o corpulento frade, de coroinha bem raspada e longas vestes marrons. Estava debruçado na janela do trem, dando a bênção final de despedida a uma multidão de bons católicos.
Existe uma regra entre os colportores. Quando surge uma oportunidade de distribuição, quer se trate de um príncipe ou de um mendigo, todos devem ter o mesmo direito. Por isso, Januário encaminhou-se respeitosamente para a janela, oferecendo ao frade um exemplar da Bíblia. A oferta teve o mesmo efeito de um pano vermelho colocado diante de um touro bravio. O astuto representante de Roma, julgando que o trem estava preste a sair, atirou contra o livro e o seu humilde vendedor, injúrias terrivelmente venenosas e ofensivas. Eram palavras especialmente escolhidas para desacreditar publicamente o colportor diante do povo ali reunido, deixando-o desmoralizado, exatamente quando o trem estaria saindo e não lhe seria possível defender-se, enquanto o frade seguiria a viagem sob uma gloriosa vitória. "Retire