O Fonoaudiologo, Este aprendiz de Feiticeiro
Lúcia Arantes
Os quadros de atraso no desenvolvimento da linguagem constituem um lugar privilegiado para se refletir sobre a natureza da clínica fonoaudiológica. As múltiplas formas de abordagem do fenômeno são reveladoras perspectivas segundo as quais o clínico contempla a linguagem. Existem quadros de retardo e linguagem vinculados a patologias como deficiência mental, auditiva, lesões cerebrais e psicoses. Quadros, estes, que são aparentemente menos controvertidos: a explicitação etiológica confere ao clínico “maior segurança”. Mesmo assim, a configuração de seu papel (o que sou?) e a de sua atuação (o que faço?) permanecem intocadas, o que parece indicar que o desvendamento da origem do retardo (sua causa) não é fator determinante na condução do trabalho clinico. Na verdade, detectá-la elimina, apenas, o problema diagnóstico, mas não soluciona o terapêutico. Por outro lado, o diagnóstico, quando obscuro, deixa em aberto um leque de possibilidades interpretativas, que podem ser delineadas, definidas, a partir da concepção de linguagem do clínico. Esclareço que tal concepção nem sempre é explicitamente assumida por ele. Há autores que associam o retardo de linguagem com fatores ambientais, quer dizer, à falta ou pobreza de estimulação (Eisenson, 1971). Há, também, os que apostam na determinação orgânica desses quadros, relacionada ou a fatores lesionais pouco definidos do sistema nervoso central, ou a fatores de natureza hereditária (Ingram, 1969). Há, ainda, vertentes que remetem a explicação para a interação do sujeito com o mundo físico. Este é o caso de Zorzi (1987) e Seber (1980), que, inspirados na epistemologia genética de Piaget, acreditam na possibilidade de explicar o retardo de linguagem a partir das vicissitudes do desenvolvimento cognitivo, tomado como determinante do desenvolvimento lingüístico. Numa perspectiva sociointeracionista, Palladino (1986) discute a determinação dessa condição