O fim da Antropologia
O Fim da Antropologia
A invenção da cultura
de Roy Wagner. Trad. Marcela Coelho de Souza e Alexandre Morales. São Paulo: Cosac Naify, 2010. 253 pp.
Marcio Goldman
[1] A interpretação das culturas foi traduzido para cerca de vinte línguas;
Cultura e razão prática foi traduzido ao menos para o alemão, espanhol, francês, italiano e português. Mas A invenção da cultura é a primeira tradução do livro de Wagner. Além disso, o livro praticamente não foi resenhado ao ser publicado. Duas exceções — cuja incompreensão e má vontade para com o autor fazem beirar o ridículo — são: Beattie. J. “Roy Wagner: the invention of culture”. Rain, vol. 13,
1976, p. 10; e Blacking, J. “Wagner,
Roy. The invention of culture”.
Man, vol. 11, nº. 4, New Series, 1976, pp. 607-8.
Há três modos de abordar A invenção da cultura: enfatizar a originali‑ dade quase absoluta do livro, seu caráter intempestivo; inventariar suas dívidas para com os autores a ele contemporâneos ou para com aqueles de um passado recente ou remoto; tentar, enfim, um equilí‑ brio judicioso entre a primeira e a segunda opções. Por diversas razões escolhi deliberadamente a primeira alternativa.
Deste ponto de vista, poderíamos observar inicialmente que a pri‑ meira edição de A invenção da cultura, em 1975, é quase simultânea a de dois outros livros de antropólogos norte‑americanos que marcaram a antropologia contemporânea: A interpretação das culturas, de Clifford
Geertz, e Cultura e razão prática, de Marshall Sahlins — publicados, res‑ pectivamente, em 1973 e 1976. O destino desses três livros, contudo, continua sendo muito diferente. Afinal, os dois últimos conheceram uma difusão e um sucesso que o primeiro mal começa a experimentar e que dificilmente terá em grau comparável. No Brasil, por exemplo, o livro de Geertz foi traduzido, ainda que parcialmente, em 1978, e o de
Sahlins em 19791. E até hoje é raro encontrar um programa de curso de teoria antropológica que