O feminino, a violência e o amor
*Luciana Valquíria Kremin Mai – Psicologia Unijuí
“Essa mulher é uma casa secreta.
Em seus cantos, guarda vozes e esconde fantasmas.
Nas noites de inverno, jorra fumaça.
Quem entra nela, dizem, não sai nunca mais.
Eu atravesso o fosso profundo que a rodeia. Nessa casa serei habitado. Nela me espera o vinho que me beberá. Muito suavemente bato na porta, e espero”.
(Eduardo Galeano – Mulheres – “Janela Sobre Uma Mulher/1)
“Não existe um significante que diga o que é ser uma mulher”.
(Lacan)
“(...) A Psicanálise não tenta descrever o que é a mulher – seria uma tarefa difícil de cumprir – mas se empenha em descobrir como a mulher se forma, como a mulher se desenvolve desde a criança dotada de disposição bissexual.”.
– “A Feminilidade” de 1932[1], Freud procurou responder sobre o feminino –
Nosso propósito com esta construção é falar do feminino, fazer uma interlocução com a psicanálise e a área social para que possamos dar conta do tema da violência contra a mulher, especificamente a violência doméstica. Para tanto, nos sentimos intimamente ligados à produção clínica de Freud e aos seus trabalhos sobre a histeria. Mas, queremos avisar que o tema em questão é tão amplo, que se torna difícil nos determos num único foco. Por isso nosso olhar se desdobrou – nosso olhar transformou-se num farol que quer iluminar e a tudo observar, assim, quem sabe podemos pensar algumas questões peculiares. Ou mesmo, num sentido derivado, sermos um farol que apenas quer seduzir, pois as aparências de um olho que tudo vê, pode ser falacioso... Lembrando que quem fala é uma mulher. O que quer uma mulher? Estamos no âmbito familiar. Então, que família é essa? Qual a implicação dos corpos no jogo da paixão e da violência? E o que querem os homens?
É interessante pensar que a psicanálise nasce do “encontro com as mulheres”, por assim dizer – um encontro clínico. Vários autores da área psicanalítica e afins afirmam que a psicanálise foi