O fantástico mundo de Funes, o memorioso

O fantástico mundo de Funes, o memorioso

No conto “Funes, o memorioso”, Borges nos traz um narrador memorioso que utiliza um tom melancólico para registrar suas lembranças acerca de um jovem chamado Ireneo Funes. Funes é um rapaz de dezenove anos, que após sofrer um acidente torna-se paralítico e é afetado por falta de memória. Porém ao recobrá-la, o protagonista desenvolve uma extraordinária capacidade memorial e de percepção. Aprende vários idiomas sem esforço e descreve suas lembranças com riqueza, nitidez e perfeição. Ao reencontrar Ireneo Funes após o acidente, o narrador depara-se com alguém completamente diferente do que havia conhecido. O acidente não o muda apenas fisicamente, mas o modo em que ele percebe o mundo. Sem a liberdade motora, e preso em uma rotina simplória o protagonista desenvolve uma memória aguçada e detalhista. Funes cria seu próprio sistema de signos afim de catalogar e enumerar suas lembranças e imagens das lembranças, ou seja, catalogava não só a lembrança em si mas enumerava quantidade de vezes que a lembrou (percebeu) independente do tempo que aconteceu. A incapacidade de esquecimento torna-se uma espécie de doença a Funes. Símbolo da memória, ele é aquele que lembra de tudo, de todos e todas as circunstâncias. Passou por um processo de transformação interior e exterior. Como diz o conto,"havia vivido como quem sonha: olhava sem ver, ouvia sem ouvir, esquecia-se de tudo, de quase tudo" então ele muda o modo de perceber o mundo sendo minucioso e detalhista, assim mudando também o modo em que o mundo o vê. O não esquecimento, ou seja, essa memória aguçada de Funes nos remete a valorização da vida. Ao se ver paralítico, desenvolve uma incrível capacidade de percepção do mundo ao redor, apegando-se a sua memória. Ireneo faz com que cada ato, cada elemento e cada circunstância tenha seu devido valor, assim tendo um modo particular de contemplar a vida.