O falar do pernanbucano
Salatiel Ferreira Rodrigues O trabalho que ora apresentamos não resultou efetivamente de uma pesquisa, mas de ligeiro contato que casualmente tivemos com os falantes da comunidade de Belém do São Francisco, em Pernambuco, à margem esquerda do rio. Estávamos à procura de um tio, pescador de profissão, que não víamos havia anos. As pessoas a quem nos dirigimos com perguntas sobre onde encontrar o pescador Manuel nos responderam em uma linguagem rica em características peculiares. De início chegamos a pensar que se tratava de uma brincadeira de cunho lingüístico quando alguém quis saber: “Quale ele o Manuele?” Novas ocorrências da mesma realização do /l/, no entanto, convenceram-nos da existência local desse registro. Foi a partir daí que passamos a anotar em cima do joelho as propriedades da língua belenense. Os sons vocálicos bem marcados, como emistabelecê, o desenvolvimento de uma vogal na estrutura da palavra, como em Siliveira (por Silveira), fez-nos pensar no “falar repousado” a que aludiu Fernão de Oliveira.
Uma vez que conversamos mais freqüentemente com pessoas simples do campo e da pesca, a terminologia aqui levantada está mais especificamente na boca desses grupos de falantes, se bem que termos com realização semelhante puderam ser colhidos na cidade.
NOMES PRÓPRIOS Barandão → Brandão
Fabiliço → Fabrício
Fuluripa → Floripes
Jordião → Jordão
Piripituba → Pirpirituba
Quelemente → Clemente
Siliveira → Silveira
Simpiliço → Simplício
PRÓTESE (Adição de letra ou sílaba no início da palavra) abuzinar → buzinar adalia → dália adispois → depois alambu → nhambu amagoado → magoado amisturar → misturar amisturado → misturado aprantar → plantar apressiguir → perseguir apressiguido → perseguido arrecair → recair arrecaída → recaída arrecordar → recordar arrecuar → recuar arrecuado → recuado arrecuperar → recuperar arrecuperado → recuperado arrejeitar → rejeitar (variação não