o estudo geografico da cidade
O ESTUDO GEOGRÁFICO DAS CIDADES*
THE GEOGRAPHICAL STUDY OF CITIES
PIERRE MONBEIG
Numa resposta a um inquérito do Conselho Nacional de Geografia,
Gilberto Freire sublinhou a raridade e o interesse dos estudos de geografia
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urbana no Brasil . Tal raridade é surpreendente num país onde o desenvolvimento de algumas grandes metrópoles e a vida mais modesta, porém ativa, de centros urbanos intimamente ligados ao meio rural, deveriam normalmente atrair as pesquisas: um artigo de ordem geral de
Deffontaines, o seu esboço sobre o Rio de Janeiro, as publicações de
Preston James, as de Otto Quelle (de acesso difícil), uma monografia sobre
Petrópolis do Professor Arbos, eis, ao que me parece, as únicas verdadeiras tentativas de monografias de geografia urbana brasileira. Naturalmente, convém assinalar os estudos de caráter sociológico ou mais puramente urbanísticos, como os do Departamento de Cultura que a Revista do
Arquivo publicou, ou o volumoso livro de Agache sobre o Rio, ou ainda o artigo de Caio Prado Júnior na revista Geografia, não sendo estes, porém, verdadeiras e completas monografias geográficas. Mais curioso ainda, é que esse tema estava na ordem do dia do Congresso de Geografia de
Florianópolis e que, com exceção da colaboração paulista, não reteve senão medianamente a atenção dos estudiosos brasileiros. Entretanto, na maioria dos países onde a geografia moderna está bem desenvolvida, na
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Alemanha, nos Estados Unidos e na França , a geografia urbana tem visto aumentar a sua bibliografia, não só por meio de artigos de revistas, mas também por meio de obras de maiores dimensões.
O estudo geográfico de um organismo urbano é um dos mais típicos das concepções e dos métodos da geografia, segundo as diretrizes que lhe traçaram Ratzel, Vidal de la Blache, Brunhes e mais tarde os geógrafos
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Publicado originalmente na Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, ano 7, v. 73, jan. 1941.
Republicado no Boletim Geográfico